sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CANTINHO DA MÚSICA



 O CENTENÁRIO DE NELSON CAVAQUINHO 


E vamos falar de um sambista importante para a música brasileira e que, se  vivo fosse, estaria completando cem anos. Vamos falar de Nelson Antonio da Silva, carioca, nascido em 29/10/1911, filho de família humilde, e que pelo estilo peculiar de tocar o instrumento com apenas dois dedos, ficou conhecido pelo apelido de Nelson Cavaquinho, e nos deixou músicas que são pérolas do samba e temas obrigatórios em qualquer boa roda de músicos.

A vida de Nelson Cavaquinho, para não variar do geral dos grandes sambistas, sempre foi um misto de dificuldades, boêmia, roda de samba e histórias engraçadas. Ainda muito jovem misturou-se com a malandragem carioca e, com suas andanças pelas noites, conheceu grandes músicos que muito influenciaram em sua formação. Casou-se aos vinte anos, depois de ser levado até a delegacia pelo pai da moça e, por não ter emprego, sempre contou com parentes para prover a família e os quatro filhos nascidos desta união.

Um pouco adiante conseguiu um posto como cavalariano na Polícia Militar, ficando responsável pela patrulha do Morro da Mangueira onde, na verdade, parava de bar em bar e onde fez amizade com Cartola, Carlos Cachaça, Zé da Zilda e outros. Nestas patrulhas na Mangueira ainda mais envolveu-se com o samba e a boêmia, não só passando dias e noites sem ir à casa, como também faltando ao serviço, o que lhe rendia detenções constantes. No xadrez passava o tempo compondo, sendo fruto de uma destas tantas detenções a música “Entre a Cruz e a Espada”, totalmente composta na prisão.

Começou a fazer sucesso quando algumas de suas músicas foram gravadas por Cyro Monteiro, momento em que também se separou da mulher e ficou livre para suas noitadas sem fim. Como vivia sem dinheiro, vendia seus sambas por ninharias na Praça Tiradentes e alguns que lhes foram mais próximos afirmam que muito samba de sucesso tido como deste ou daquele nome, hoje importante, é na verdade uma destas composições vendidas.

Analisando a música de Nelson Cavaquinho, quase sempre composta na madrugada, em mesa de bar regada a cerveja ou cachaça, ressalta que a melancolia e a morte são temas marcantes em sua obra e a fatalidade e os amores fracassados uma constante, o que demonstra um conflito interno e uma dor íntima bastante acentuada. Basta ouvirmos “A Flor e o Espinho”, “Rugas”, “Quando Eu Me Chamar Saudade” e outras, para que a afirmativa acima seja comprovada.

O grande parceiro musical de Nelson Cavaquinho foi Guilherme de Brito, que conheceu o parceiro quando este já era sucesso, sendo a música “Garça” a primeira obra da dupla. Consta que Nelson Cavaquinho deixou um repertório de mais de seiscentas músicas, sendo uma grande parte delas inéditas e uma grande maioria já perdidas ou esquecidas, pois o compositor não as escrevia, preferindo guarda-las na memória.

Já idoso e sentindo o peso das noites e madrugadas passadas, Nelson parou de beber e fumar, tentava ter um sono em horário normal e não mais desaparecia por dias seguidos. Neste período as composições foram diminuindo drasticamente, embora ainda aparecesse uma ou outra, até que na madrugada de fevereiro de 1986, com 74 anos de idade, o compositor faleceu vítima de enfisema pulmonar.

                                                 Edmundo Machado

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