sábado, 26 de fevereiro de 2011

CANTINHO DA MÚSICA

 FOLIA A BRASILEIRA

E, como de outros tempos, o verão está presente, com sol, a praia, a animação e, embora as águas de março é que fechem a estação, de fato, o Carnaval é que dá o tom do ano brasileiro. Isto porque, em verdade, a vida do país só começa, realmente, após o Carnaval. Antes a coisa “vai na valsa”, mas não engrena.
A origem do Carnaval até hoje não é precisa, existindo sérias divergências entre os historiadores. Alguns dizem que o Carnaval é encontrado em festas populares da Grécia Antiga, muitos anos antes de Cristo. Outros afirmam que é de procedência egípcia, isto sem falar nas versões que levam a origem da festa para a Europa medieval.
No Brasil, sem divergências, a festa teve seu início em uma tradição portuguesa chamada “Entrudo” onde, em determinada época do ano, em brincadeira popular, os portugueses saiam às ruas e jogavam, um nos outros, água, farinha e ovo. Evidente que a sujeira era enorme, pelo que a festa era também conhecida por “mela-mela”.
É bom relembrar que o “mela-mela”, assim como o Carnaval de Veneza, da França e de outros pontos da Europa, resumia-se em pessoas mascaradas ou até fantasiadas andando pelas ruas e lançando água e outros produtos nos demais participantes, sem qualquer tipo de cantoria ou instrumentos musicais.
E, na minha opinião, exatamente neste ponto reside a beleza e o ineditismo do Carnaval brasileiro. O que tornou o Carnaval brasileiro diferente de tudo que existe pelo mundo foi a música. Enquanto as demais festas carnavalescas eram silenciosas, o som, o ritmo e as melodias levadas pelo povo brasileiro para as ruas é que transformaram esta festa pagã em uma explosão de alegria, tornando-a festa carnavalesca totalmente diferenciada das restantes existentes pelo mundo.
Tenho que, no início, não foram feitas músicas para o Carnaval. Isto só veio a acontecer muito depois. No princípio, a explosão de risos e alegria do povo é que levou músicas de salão, mas de ritmo mais animado, para as ruas, somado ao fato de que, no fim do século XIX, começo do século XX, surgiram os primeiros cordões, os corsos, os blocos carnavalescos, que entoavam músicas enquanto passavam e incluíram instrumentos musicais à festa, o que deu um novo colorido a brincadeira.
Registro importante é a música “Abre Alas” de autoria de Chiquinha Gonzaga, que em 1899 deu o tom e o ritmo do Cordão Rosa de Ouro, e que incorporou, definitivamente, a música ao Carnaval, vez que a novidade (se é que podemos chamar assim), motivou o ingresso definitivo da música à grande festa popular.
Neste mesmo século XX surgiam, ainda que de forma embrionária, as grandes agremiações carnavalescas de hoje e com elas, a ala de compositores, criadores de sambas memoráveis e, existindo mercado para marcinhas e ritmos correlatos, muitos passaram a explorar este filão. Só como lembrança, basta recordarmos das marchas “A Jardineira” (Oh, jardineira/porque estás tão triste/mas o que foi que ti aconteceu), “Allah-Lá-Ô” (Allah-la-ô, ô,ô,ô/mas que calor, ô,ô,ô), “Aurora” (se você fosse sincera/ô,ô,ô/aurora), “Cachaça” (se você pensa que cachaça é água/cachaça não é água não), “Confete”, “Chiquita Bacana”, “Estrela do Mar” e a conhecidíssima “Cidade Maravilhosa”.
Vale comentar que o samba e a marcha não prevalecem em todo o país. No Recife, em Olinda, o Carnaval tem um som mais tradicional-folclórico, posto que os ritmos são o frevo e o maracatu e na Bahia um som de forte incidência de percussão, próprio da região, mas ainda assim, uma festa com muita música.
A verdade é que, tenha o Carnaval saído daqui ou dali, não existe na face da terra um reinado de Momo como o que encontramos no Brasil, uma festa sonora e bem diferente dos carnavais silenciosos encontrados na Europa.
                                           
  Edmundo Machado

Nenhum comentário:

Postar um comentário