A história do violão não é até hoje pacífica e mais de uma versão existe quanto a evolução deste instrumento tão popular. Das correntes mais aceitas, uma dá como certa a origem do violão como uma evolução de um instrumento grego, chamado de “khetara grega” que, nas mãos dos romanos passou a chamar-se “citara romana” e também de “fidícula” e que teria chegado ao mundo ibérico no século I d.C pelas mãos dos conquistadores romanos. Afirmam os musicólogos que o instrumento assemelhava-se a lira e que foi sofrendo transformações até aparecer uma caixa de ressonância, acompanhada de um braço de três cravelhas e três cordas e que, posteriormente, foram feitas divisões transversais para que se pudesse obter som mais grave ou agudo de uma mesma corda, o que estabeleceu as características atuais do violão.
Uma segunda corrente afirma que o violão é oriundo do antigo “alaúde árabe”, que chegou na península ibérica através das invasões mulçumanas, com as tropas comandadas por Tariz. Como os mouros conseguiram vencer o rei Rodrigo de Espanha na batalha de Guadalete, não demorou para que a península fosse conquistada e por volta de 718 foi formado um emirado subordinado ao califado de Bagdá. O “alaúde árabe” por ser um instrumento já conhecido dos mouros, adaptou-se perfeitamente as manifestações culturais da época e fazia parte das atividades da corte.
Aprofundando-se a pesquisa, temos que as duas correntes tem seu ponto de verdade, vez que no século VIII tanto o instrumento de origem grega como o de origem árabe existiam, em um mesmo momento, nas terras de Espanha, fato comprovado por ilustrações antigas, onde podemos ver um instrumento, chamado de “guitarra moura”; com três pares de corda e tocado por uma palheta, nas mãos de um instrumentista árabe e um outro, chamado de “guitarra latina”, no formato de dois círculos sobrepostos, parecendo o número oito e com quatro pares de cordas, nas mãos de um instrumentista romano.
Daí que podemos concluir, sem dúvida alguma, que tanto o instrumento de origem grega como o de origem árabe, existiram e coexistiram em um mesmo tempo no mundo ibérico e que a evolução do violão está intimamente ligada à própria história da vida espanhola. Também não se pode discutir que a cultura moura deixou profundas marcas na cultura espanhola e que no setor da música a influência é visível até hoje, mesmo nas composições atuais espanholas, sobressaindo-se de forma evidente o modo e o som das músicas flamengas, com entonações típicas da música árabe e totalmente divergente da formação melódica ocidental.
Outro ponto concreto que indica a origem do violão é a palavra “guitarra”, nome pelo qual o violão é conhecido em diversos países de língua não portuguesa. Na língua inglesa o violão chamasse “guitar”, na francesa “guitare”, em alemão chamasse “gitarre” e em italiano “chitarra”, diferente do Brasil que, quando falamos “guitarra”, estamos denominando o instrumento elétrico “guitarra elétrica”.
Isto porque os portugueses possuíam um instrumento muito assemelhado ao violão, só que um pouco menor, denominado de “viola” e, quando viram a “guitarra”, extremamente parecido com a viola, só que maior, entenderam que era uma “viola grande” e colocaram o nome do instrumento no aumentativo, fazendo a correlação de viola para violão.
Outros comentários de valor podem ser encontrados na obra “A evolução do violão na história da música” de Eduardo Fleury Nogueira, que é leitura obrigatória para quem queira pesquisar o assunto.
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